A importância do auxílio psicoterapêutico no processo de elaboração do luto

Ana Carolina Paulini Marturano

10/31/20232 min read

gray concrete statue of a woman
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"Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós" (Amado Nervo, poeta mexicano)

Conhece esta famosa frase?! Ela parece querer amenizar a nossa dor, mas, ainda sim, sugere uma ausência. Perder uma pessoa querida, dói. E dependendo da relação que se tinha ou da forma como foi, elaborar o luto pode ser mais difícil. Kovács (1992) se refere à morte como uma ruptura, perda, desintegração. Assim, mesmo que tenhamos as lembranças e o carinho por quem se foi dentro de nós, fato é que não poderemos mais contar com o contato e a presença física do outro.

Sentir esta perda é importante. O luto precisa ser sentido para que possa ser elaborado. O tempo do luto é variável, cada pessoa tem seu tempo. Não existe um tempo definido, embora nos atentemos ao 1º ano após a perda, pois é a 1ª vez de todas as datas e ocasiões em que a pessoa falecida não estará mais presente, e será sentido como diferente pelo enlutado.

Kübler-Ross (1998) apresentou 05 estágios para o processo de luto. Lembrando que: não tem tempo definido para cada estágio, não necessariamente os estágios são seguidos de forma linear, ou seja, nem todo mundo passa por todos eles e na mesma sequência.

1º) negação e isolamento: se refere à negação inicial, geralmente tão logo recebemos a notícia. Funciona como uma defesa temporária, para que a pessoa se recupere com o tempo. Tendemos ao isolamento e evitamos contato com outras pessoas para que não tenhamos que ficar compartilhando essa experiência.

2º) raiva: é quando aflora os sentimentos de raiva e revolta. Não é mais possível negar, então pode surgir um certo inconformismo. Questiona-se "por que eu?".

3º) barganha: é como se fizéssemos acordos divinos na esperança de reverter a perda ou a morte iminente, na tentativa de amenizar a dor. São os momentos "e se...?"

4º) depressão: afloram sentimentos de debilitação e tristeza, solidão e saudade. A realidade da perda é mais sentida. É a fase mais indicada para o acompanhamento terapêutico, pois se a pessoa se aprofundar na depressão, terá mais dificuldade para lidar com suas angústias e de aceitar a finitude.

5º) aceitação: por fim, é como se a dor tivesse diminuído e nos conformamos com o momento final. É o estágio final, é quando já estamos mais adaptados à rotina sem a pessoa, o que não significa que a tenha conseguido superar totalmente, mas sim que está conseguindo lidar melhor.

O luto é um processo natural que precisamos para nos adaptar à perda e ao nosso ritmo de vida sem o outro. Não é o luto em si que é patológico, mas podem haver fatores que dificultam este processo; como a intensidade dos sentimentos e a dificuldade de adaptação à nova rotina.

É necessário que tenhamos uma rede de apoio no processo de luto. Contudo, algumas pessoas podem ter mais dificuldade para conseguir lidar com esta fase. Ou, apenas desejam um espaço para poder falar sobre, pois quando falamos, ouvimos a nós mesmos e, então, podemos rever tais experiências. São estes os espaços do suporte psicológico, do acompanhamento psicoterapêutico.

Referências:

KOVÁCS, Maria Júlia. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992

KÜBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998

NERVO, Amado. frases