Sobre vínculo entre filhos e pais separados

Ana Carolina Paulini Marturano

10/23/20232 min read

person holding babys feet
person holding babys feet

"Eu e a mãe do meu filho [ou "eu e o pai do meu filho"] continuamos brigando, mesmo separados. Por isso, me afastei. Mas não tem problema!, quando eles forem adultos, vão entender". Conhece esta frase? Talvez a tenha ouvido, alguma vez, nas situações em que após a separação conjugal, houve o afastamento parental. Mas, será que os laços sanguíneos são unicamente necessários para a manutenção do vínculo entre pais e filhos?!

Vínculos são estabelecidos na qualidade da relação e vão sendo mantidos conforme esta se desenvolve. Aquela pessoa que ficou um tempo ausente (e não somente de presença física) não vai ter a mesma relação daquela com quem se tem um contato frequente. Porém, se com um contato frequente a relação não for sentida como boa, não se garantirá um bom vínculo. Por vínculo, entende-se as relações de afeto, afinidade e confiança.

Pode até ser que o relacionamento seja reestabelecido após um período. Mas, vai depender do quanto as pessoas estão disponíveis para isso e da compreensão que têm da situação. No caso dos pais e filhos afastados, implica em como cada um entenderá o que aconteceu e como isto os afeta.

Rogers (apud Belém, 2000) diz: "o organismo reage ao campo perceptivo tal como este é experimentado e apreendido. Este campo é, para o indivíduo, a realidade". Isso explica que as pessoas reagem à determinada situação de acordo com a forma como a perceberam e absorvem a experiência. Por exemplo, se como filha sinto meus pais próximos e afetuosos para comigo, mesmo que eles não estejam mais juntos enquanto casal, mas como figuras parentais são as referências com quem posso contar, mais facilmente este vínculo se manterá.

Assim, oriento que apenas os laços sanguíneos não são unicamente suficientes para estabelecer e garantir o vínculo entre as pessoas. Bem como, alerto que os conflitos conjugais não devem anular a relação parental - salvo casos que apresentem riscos. Pois, a ausência de um dos pais pode ser sentida como um "buraco" na vida dos filhos, mesmo que volte a ser preenchido.

Referência:

BELÉM, Diana Maria de Hollanda. Carl Rogers: do diagnóstico à abordagem centrada na pessoa. Recife: Edições Bagaço, 2000.

(texto elaborado a partir do post disponível em https://www.instagram.com/p/COOP83xhMKL/, 28 de abril de 2021)