Tentando tornar-se mãe


Muitas mulheres têm o sonho da maternidade. Outras, não, e seguem bem assim. Dessas que desejam, algumas conseguem, outras não. Mas quem fala sobre elas?
Estamos falando das mulheres "tentantes". São mulheres que almejam a maternidade, e ainda não conseguiram engravidar. O nome "tentante" vem deste processo de estar tentando engravidar. Outras, não se nomeiam assim, porque não entendem como um processo de tentativas constantes, embora abandonem os métodos contraceptivos vislumbrando a maternidade.
As mulheres ditas "tentantes" são as que convivem com o sofrimento emocional provocado pela ausência involuntária de ter filhos. Além disso, também há as que referem cansaço pelos exames frequentes atrás de respostas. Allebrandt e Freitas (2019), em seu artigo sobre a análise do posicionamento das mulheres tentantes nas redes sociais, ainda acrescentam sobre a culpabilização e a responsabilização das mulheres pela infertilidade, discorrendo sobre a procriação e reprodução como preocupações somente de mulheres. Neste sentido, entendo que podemos pensar, por outro lado, sobre as cobranças que as mulheres sofreram, historicamente, para a geração de filhos.
"As tentantes estão nos mostrando que aquelas mulheres que estão buscando a maternidade sofrem muitas pressões sociais por não se enquadrarem numa construção naturalizada de maternidade" (Allebrandt e Freitas, 2019). Para algumas mulheres, lidar com a incapacidade de engravidar pode ser uma experiência emocionalmente desafiadora e devastadora. Muitas vezes, essas mulheres enfrentam uma mistura complexa de sentimentos, como tristeza, frustração, raiva, inveja, culpa, solidão, etc. Esses sentimentos podem afetar profundamente a autoestima e o bem-estar emocional.
É importante que essas mulheres busquem apoio emocional e se atentem a estes sentimentos, como estar em um acompanhamento psicológico. Compartilhar seus sentimentos e experiências com pessoas no decorrer da psicoterapia, pode ajudá-las a lidarem com estes sentimentos, se sentirem acolhidas e fortalecidas emocionalmente, para visualizar outras alternativas, a depender do caso.
O que parece ser algo natural, pra essas mulheres não é bem assim. Afinal, "se todo mundo engravida, por que não eu?" Carlos Moraes, ginecologista obstetra especialista em Infertilidade e Ultrassom pela FEBRASGO, a infertilidade é definida quando não há gravidez após 12 meses (ou mais) de relações sexuais regulares e sem preservativos.
As causas são diversas e podem envolver problemas de saúde na mulher, no homem ou em ambos.
Na mulher, algumas doenças podem provocar dificuldades para ovular, fertilizar e manter a gravidez, como Síndrome do Ovário Policístico (SOP), tumores hormonais, alterações nas tubas uterinas, endometriose, miomas e pólipos no útero”. Bem como fatores externos, como sedentarismo, tabagismo, sobrepeso, consumo frequente de álcool, dieta inadequada, etc.
Entretanto, existe um fator influenciador que costuma ser esquecido ou subestimado, tanto no diagnóstico da infertilidade como no tratamento: o emocional da mulher. Segundo uma pesquisa do Instituto Valenciano de Infertilidade, na Espanha, cerca de 25 a 65% das mulheres com dificuldade para engravidar apresentam sintomas de ansiedade, estresse e até depressão.
“Considerando a interação corpo-psiquismo, supõe-se que a infertilidade tem causa combinada, onde o psíquico influencia o lado biológico, enquanto o sofrimento físico afeta a mente”, completa Monica Machado, psicóloga. O estresse e a ansiedade podem alterar certas funções fisiológicas relacionadas à fertilidade, formando um ciclo vicioso que se retroalimenta, já que a infertilidade e os devidos tratamentos podem gerar prejuízos psicológicos. A influência dos estados psicológicos sobre a função reprodutiva apresenta um perfil multifatorial, sendo assim, difícil determinar relações lineares de causa e efeito.
palavras-chave: maternidade, tentante, mulher
Referências:
https://www.instagram.com/p/C66sfe7ulgA/ (post de 13 de maio de 2024)
https://www.instagram.com/p/C6_U8jXusCA/ (post de 15 de maio de 2024)
ALLEBRANDT, Débora e FREITAS, Camila Iumatti. Em busca da cegonha: “tentantes”, “instamigas” e possíveis ativismos em redes sociais (2019). Disponível em https://www.scielo.br/j/cpa/a/wZKRk5gnrvXQDs4BnNpvZqS/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 17 de maio de 2024.